segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Rock de verdade feito no Brasil

Rock de verdade feito no Brasil

Não é exagero dizer que o Made in Brazil é uma das maiores – para não dizer a maior - expressões musicais do país. Explico. A banda está completando 40 anos de estrada este ano fazendo rock´n´roll de verdade, e sempre fiéis às suas raízes. Além de abordar temas sempre pertinentes às épocas em que estão vivendo, de forma inteligente e sem obviedades mesquinhas.

Os integrantes do Made estão prestes a entrar em estúdio para gravar o novo álbum intitulado “Rock de Verdade”, para celebrar os 40 anos de banda, e já estão apresentando algumas das novas músicas nos shows e tudo o que o público presente pode dizer é que se trata de um som fenomenal, puro e honesto. Há uma homenagem ao pianista mais maluco da música, Jerry Lee Lewis, e mesmo músicas que remetem ao The Who, a banda inglesa com peso avassalador. Quando estamos num show do Made, temos a nítida impressão de estar numa máquina do tempo, e assim como Austin Powers fez no primeiro filme ao entrar no seu carro e saltar para o passado, voltamos aos bons e velhos anos 1960 e 1970, era da paz, amor e liberdade. As músicas da banda são inovadoras, entretanto com a mesma qualidade e pegada do bom e velho rock’n’roll do início de carreira.

Finalmente alguém abriu a boca para falar a verdade sobre as - em grande parte - porcarias que as gravadoras estão lançando nos últimos tempos. Somos obrigados a ouvir por todos os lados funks de mau gosto - sendo-se que o pai dele, James Brown, morreu há pouco tempo, mas deixando uma riqueza musical incontestável - músicas melódicas enjoativas e sem sal nenhum, pops chatíssimos e repetitivos que chamam de rock, enfim, uma infinidade de músicas descartáveis que pipocam nas rádios como sucessos de audiência e que num futuro próximo serão apenas catálogo.

O Made in Brazil não está nas paradas de sucesso comerciais, apesar de serem uma banda respeitadíssima e popular no mundo underground, mas sem dúvida alguma, quaisquer músicas que eles se atrevam a fazer, com certeza, irão ficar para a posteridade como um rock de verdade, uma musicalidade sem tamanho e letras que retratam a realidade feliz e infeliz dos tempos modernos. Enquanto isso, bandas vazias e sem conteúdo estão fazendo a cabeça da garotada que, em sua maior parte, jamais ouviu falar de uma das bandas pioneiras do rock no país. O Brasil é um país de memória fraca e que não valoriza talentos como os irmãos Celso e Oswaldo Vecchione, que deveriam ser lançados à mídia para que ajudassem a fazer uma limpeza nos nossos ouvidos tão emporcalhados com a musicalidade atual.

Claro que sempre há exceções, e sabemos que um movimento contra essa banalidade está sendo levantado, especialmente no Sul do Brasil, em que bandas jovens, como o Cachorro Grande, voltaram a ter uma musicalidade compatível aos bons tempos em que a música era uma expressão de sentimentos, não apenas de cifras milionárias. São Paulo também produz música de qualidade, ainda tentando se manter como a capital do rock, e sem dúvida há bandas aqui, como as Velhas Virgens, que sabem o que fazer para que isso seja uma realidade.

Não há adjetivos para qualificar a banda que não deixa nada a desejar às maiores bandas internacionais, há apenas que se dizer que o Made é, simplesmente, “sexo, blues e rock´n´ roll”. As versões de grandes clássicos de músicos como John Lee Hooker e o mestre do blues Muddy Waters, tornaram-se músicas singulares nas mãos dos irmãos Vecchione e sua trupe, um blues de primeira linha e em legítimo “tupiniques”. Assim foi com “Mexa-se boy”, uma referencia à “Mannish boy”, de Muddy Waters, música de onde os Rolling Stones tiraram o nome da banda de rock mais popular de todos os tempos.

O Made in Brazil, em suas diversas formações, atravessou os mais variados movimentos, tais como “Tropicalismo”, “glitter”, “flower power”, “pop”, “psicodelismo”, “punk”, entre outros tantos, e enfrentaram os modismos da “discoteca”, “dance”, “house”, “lambada” etc., sem mudar o foco do que eles pretendiam fazer lá nos fins dos anos 1960, rock´n´roll, nada mais, nada menos.

Falar que o Made é uma banda “stoneana” não significa dizer falta de originalidade, mas sim que a influência da banda liderada por Sir Mick Jagger, os Rolling Stones, é notória na banda da Pompéia, a ”Meca” do rock nacional. Tanto que o vocalista, Oswaldo Vecchione, batizou alguns dos filhos com os nomes dos integrantes da maior banda de rock de todos os tempos. O mais novo é Charlie Wyman (Charlie Watts + Bill Wyman), depois Eric Richard (Eric Clapton + Keith Richard), Priscila Jones (Priscilla Presley + Brian Jones), além de Michael Philip, para lembrar o inigualável vocalista dos Stones, mais conhecido por Mick Jagger. Eric Richard só não virou Keith Richard, segundo o pai Oswaldo, pois a escrituraria do cartório alegou se tratar de nome de mulher, apesar de o pai explicar se tratar do guitarrista dos Rolling Stones.

A formação atual é composta pelos irmãos Oswaldo “Rock” Vecchione, fundador da banda que assumiu o baixo, guitarra, gaita e vocal e Celso “Kim” Vecchione, guitarrista e também fundador, além de Caio Durazzo, um guitarrista ao estilo “rockabilly” que enriquece a qualidade sonora da banda com seus riffs, Bangla no sax, que acompanha a banda há muitas décadas, Juju “Blues” Ribeiro, backing vocals estiloso, que também está com a banda há anos e Rick “Monstrinho” Vecchione, baterista imponente e filho do vocalista Oswaldo, que tem orgulho de ter o DNA na banda, além da presença de Tony “Babalú” Medeiros, na guitarra e baixo, integrante das antigas e que acompanha a banda em alguns shows. E como o Made é uma família, outro filho de Oswaldo também auxilia a banda como holdie, Eric Richard Vecchione, que apesar da pouca idade, apenas 24 anos, sabe o valor da banda Made in Brazil e se sente honrado que seu pai, por acaso, seja um dos líderes da banda que está há 40 anos ininterruptos na estrada.

Os bons tempos voltaram na Paulicéia Desvairada e o rock de verdade está retornando com o peso ideal de sua época áurea. Um Tratamento de Choque contra as baboseiras do cenário musical atual vai nos virar de ponta cabeça num fim de semana. Tudo que pedimos é: me faça sonhar, e quando a primavera chegar, será um novo dia. Intupitou o trânsito, mas com gasolina, não estou nem aí, tudo bem – tudo bom, pois meu anjo da guarda e meu amigo Elvis vão me ajudar a enfrentar o armagedom, pois Deus salva, e o rock alivia, até porque, a Minha Vida é Rock´n´roll.

Tatiana Cavalcanti