quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Educação sexual de crianças

Educação Infantil

Crianças são fofas, lindas, divertidas e alegres. Têm presença de espírito, sempre com suas observações acertadas. Encantam a todos com seus sorrisos puros e inocentes. Com sua visão simples sobre a vida, fazem inveja aos adultos atolados em complexas manobras para garantir o próprio sustento. Quantas vezes os vemos como verdadeiros anjos e seres abençoados simplesmente por serem crianças? Sendo assim, todos queremos estar sempre junto delas, já que são tão inofensivas. Será mesmo?

Em todos os meus anos na locadora presenciei uma verdadeira procissão de pais e, principalmente, mães a beira de um ataque de nervos (Pedro Almodóvar bem poderia ter usado esse titulo), buscando todos os dias um filme ou desenho que fosse capaz de acalmar, nem que fosse por apenas uma hora, os ditos anjos. Aliás, de tão estressadas, as mães usavam todos os predicados e adjetivos possíveis ao falar de seus filhos, que eram muito mais um sacrilégio que algo sacrossanto.

Como sempre, defrontada com tantas queixas, eu me fazia cúmplice daquelas mulheres e sugeria o vídeo milagroso que, como num passe de mágica, faria aqueles docinhos temperados com nitroglicerina acalmarem-se. Mas é sempre bom lembrar de um detalhe: em uma locadora há milhares de títulos com uma infinidade de capas. E foi nesse caldeirão de diferenças que tudo aconteceu.

Helena chegou aquela manhã falando o de sempre: “Hoje é dia de eu lavar as roupas dos três porquinhos que resolveram aparecer em minha vida”. Numa tradução literal, ela dizia o seguinte: “O 1º Batalhão de Infantaria do Exército voltou de uma missão no pantanal Matogrossense, deixou todas as suas roupas em meu tanque e foi para a sala praticar tiro ao alvo em minhas fotos de infância”. Claro que por trás desta singela declaração estava guardado um aflitivo pedido de socorro, algo que possibilitasse distração aos seus soldadinhos de chumbo enquanto ela se ocupasse de seu dever pátrio, ou melhor, mátrio.

Feliz, retornou para sua casa com um belo desenho animado, lançamento da semana, desejado por onze entre dez crianças. Todos reunidos, deixou o controle remoto sob os cuidados do mais velho e foi, soberana, rumo ao cumprimento do dever. Foi uma tarde como outras. Separação de roupas por cor e tecido, molho para as mais encardidas, brancas num varal, coloridas noutro. Tudo muito calmo e tranquilo. E foi aí que ela percebeu. Tudo muito calmo e tranquilo até demais!

Helena resolveu visitar a sala. No caminho chegou a pensar que o desenho devia ser realmente espetacular. Planos para mais locações da mesma fita já se tornavam claros em sua mente. Agradeceria a locadora e seria capaz até de mandar entalhar uma placa em reconhecimento ao incrível serviço prestado à sua saúde. Num arroubo de euforia, deixou para trás a idéia da placa e pensou mesmo numa estátua em praça pública.

A sala se aproximava e o delicioso som do silêncio imperava, apenas com uns suspiros e gemidos que cruzavam o ar eventualmente. Suspiros e gemidos em um desenho animado? Uma respiração ofegante se tornava mais clara, palavras em inglês ecoavam pelo corredor, algo como "fuck" qualquer coisa. Mas das crianças, nem um pio.

A visão foi trágica e cômica. Os anjinhos estavam com seus olhos arregalados, sem piscar, queixos caídos e um ar de curiosidade como só as crianças diante do novo podem ter. Um belo, se é que podemos dizer isso, filme pornô distraia a jovem platéia que sequer notou à presença da mãe.

Desfeita toda a confusão, fitas trocadas e novos prazos de locação gentilmente cedidos à Helena, aprendi mais uma: olhar o conteúdo das caixas é tão importante quanto se preocupar com os problemas das mães.

PS.: Só mais uma coisa, você já conferiu o que eu te aluguei hoje?

Autor: Mario J. Silva
Revisora: Tatiana Cavalcanti

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Rock de verdade feito no Brasil

Rock de verdade feito no Brasil

Não é exagero dizer que o Made in Brazil é uma das maiores – para não dizer a maior - expressões musicais do país. Explico. A banda está completando 40 anos de estrada este ano fazendo rock´n´roll de verdade, e sempre fiéis às suas raízes. Além de abordar temas sempre pertinentes às épocas em que estão vivendo, de forma inteligente e sem obviedades mesquinhas.

Os integrantes do Made estão prestes a entrar em estúdio para gravar o novo álbum intitulado “Rock de Verdade”, para celebrar os 40 anos de banda, e já estão apresentando algumas das novas músicas nos shows e tudo o que o público presente pode dizer é que se trata de um som fenomenal, puro e honesto. Há uma homenagem ao pianista mais maluco da música, Jerry Lee Lewis, e mesmo músicas que remetem ao The Who, a banda inglesa com peso avassalador. Quando estamos num show do Made, temos a nítida impressão de estar numa máquina do tempo, e assim como Austin Powers fez no primeiro filme ao entrar no seu carro e saltar para o passado, voltamos aos bons e velhos anos 1960 e 1970, era da paz, amor e liberdade. As músicas da banda são inovadoras, entretanto com a mesma qualidade e pegada do bom e velho rock’n’roll do início de carreira.

Finalmente alguém abriu a boca para falar a verdade sobre as - em grande parte - porcarias que as gravadoras estão lançando nos últimos tempos. Somos obrigados a ouvir por todos os lados funks de mau gosto - sendo-se que o pai dele, James Brown, morreu há pouco tempo, mas deixando uma riqueza musical incontestável - músicas melódicas enjoativas e sem sal nenhum, pops chatíssimos e repetitivos que chamam de rock, enfim, uma infinidade de músicas descartáveis que pipocam nas rádios como sucessos de audiência e que num futuro próximo serão apenas catálogo.

O Made in Brazil não está nas paradas de sucesso comerciais, apesar de serem uma banda respeitadíssima e popular no mundo underground, mas sem dúvida alguma, quaisquer músicas que eles se atrevam a fazer, com certeza, irão ficar para a posteridade como um rock de verdade, uma musicalidade sem tamanho e letras que retratam a realidade feliz e infeliz dos tempos modernos. Enquanto isso, bandas vazias e sem conteúdo estão fazendo a cabeça da garotada que, em sua maior parte, jamais ouviu falar de uma das bandas pioneiras do rock no país. O Brasil é um país de memória fraca e que não valoriza talentos como os irmãos Celso e Oswaldo Vecchione, que deveriam ser lançados à mídia para que ajudassem a fazer uma limpeza nos nossos ouvidos tão emporcalhados com a musicalidade atual.

Claro que sempre há exceções, e sabemos que um movimento contra essa banalidade está sendo levantado, especialmente no Sul do Brasil, em que bandas jovens, como o Cachorro Grande, voltaram a ter uma musicalidade compatível aos bons tempos em que a música era uma expressão de sentimentos, não apenas de cifras milionárias. São Paulo também produz música de qualidade, ainda tentando se manter como a capital do rock, e sem dúvida há bandas aqui, como as Velhas Virgens, que sabem o que fazer para que isso seja uma realidade.

Não há adjetivos para qualificar a banda que não deixa nada a desejar às maiores bandas internacionais, há apenas que se dizer que o Made é, simplesmente, “sexo, blues e rock´n´ roll”. As versões de grandes clássicos de músicos como John Lee Hooker e o mestre do blues Muddy Waters, tornaram-se músicas singulares nas mãos dos irmãos Vecchione e sua trupe, um blues de primeira linha e em legítimo “tupiniques”. Assim foi com “Mexa-se boy”, uma referencia à “Mannish boy”, de Muddy Waters, música de onde os Rolling Stones tiraram o nome da banda de rock mais popular de todos os tempos.

O Made in Brazil, em suas diversas formações, atravessou os mais variados movimentos, tais como “Tropicalismo”, “glitter”, “flower power”, “pop”, “psicodelismo”, “punk”, entre outros tantos, e enfrentaram os modismos da “discoteca”, “dance”, “house”, “lambada” etc., sem mudar o foco do que eles pretendiam fazer lá nos fins dos anos 1960, rock´n´roll, nada mais, nada menos.

Falar que o Made é uma banda “stoneana” não significa dizer falta de originalidade, mas sim que a influência da banda liderada por Sir Mick Jagger, os Rolling Stones, é notória na banda da Pompéia, a ”Meca” do rock nacional. Tanto que o vocalista, Oswaldo Vecchione, batizou alguns dos filhos com os nomes dos integrantes da maior banda de rock de todos os tempos. O mais novo é Charlie Wyman (Charlie Watts + Bill Wyman), depois Eric Richard (Eric Clapton + Keith Richard), Priscila Jones (Priscilla Presley + Brian Jones), além de Michael Philip, para lembrar o inigualável vocalista dos Stones, mais conhecido por Mick Jagger. Eric Richard só não virou Keith Richard, segundo o pai Oswaldo, pois a escrituraria do cartório alegou se tratar de nome de mulher, apesar de o pai explicar se tratar do guitarrista dos Rolling Stones.

A formação atual é composta pelos irmãos Oswaldo “Rock” Vecchione, fundador da banda que assumiu o baixo, guitarra, gaita e vocal e Celso “Kim” Vecchione, guitarrista e também fundador, além de Caio Durazzo, um guitarrista ao estilo “rockabilly” que enriquece a qualidade sonora da banda com seus riffs, Bangla no sax, que acompanha a banda há muitas décadas, Juju “Blues” Ribeiro, backing vocals estiloso, que também está com a banda há anos e Rick “Monstrinho” Vecchione, baterista imponente e filho do vocalista Oswaldo, que tem orgulho de ter o DNA na banda, além da presença de Tony “Babalú” Medeiros, na guitarra e baixo, integrante das antigas e que acompanha a banda em alguns shows. E como o Made é uma família, outro filho de Oswaldo também auxilia a banda como holdie, Eric Richard Vecchione, que apesar da pouca idade, apenas 24 anos, sabe o valor da banda Made in Brazil e se sente honrado que seu pai, por acaso, seja um dos líderes da banda que está há 40 anos ininterruptos na estrada.

Os bons tempos voltaram na Paulicéia Desvairada e o rock de verdade está retornando com o peso ideal de sua época áurea. Um Tratamento de Choque contra as baboseiras do cenário musical atual vai nos virar de ponta cabeça num fim de semana. Tudo que pedimos é: me faça sonhar, e quando a primavera chegar, será um novo dia. Intupitou o trânsito, mas com gasolina, não estou nem aí, tudo bem – tudo bom, pois meu anjo da guarda e meu amigo Elvis vão me ajudar a enfrentar o armagedom, pois Deus salva, e o rock alivia, até porque, a Minha Vida é Rock´n´roll.

Tatiana Cavalcanti

domingo, 26 de agosto de 2007

30 anos sem o rei.

30 anos sem o Rei


Há exatos 30 anos (16 de agosto de 1977) morria Elvis Aaron Presley, nosso rei do Rock´n´ Roll. O que aquele rapaz, um caminhoneiro de topete enorme, fez para revirar o mundo? Abriu a boca e nos presenteou com sua belíssima voz, que era considerada algo raro, por se tratar de um branco cantando música de negro, com voz de negro. Não gosto de falar em cores, pois raça não existe, mas aquele branquelinho magrela deixou a todos boquiabertos quando decidiu gravar uma música no estúdio da Sun Philips, em Memphis, Tennessee.


Elvis revolucionou o cenário musical de uma forma provocante, sensual e inteiramente rebelde. As garotas gritavam enlouquecidamente em seus shows, o apertavam, o adoravam. Ele era lindo! Foi um dos homens mais bonitos já vistos na Terra, com seu vozeirão potente, mas que morreu gordo e já não tão mais bonito assim. Há quem diga que Elvis não morreu (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u318295.shtml) e estaria morando em Buenos Aires desde sua morte oficial com o pseudônimo de John Burrows – que ele costumava utilizar durante as turnês como disfarce.

O caixão de Elvis - com ele dentro - pesava menos do que o peso dele normalmente (ele "morreu" bem gordinho), e a única foto que se tem desse dia é de um rapazão jovem e magro morto naquele caixão e que disseram se tratar do Rei. Será que era mesmo? Bom, essas teorias conspiratórias são arriscadas e incríveis demais para se acreditar, mas no fundo nossa vontade, como fãs, é de que sejam verdade e que ainda possamos ter a chance de ver um show do maior fenômeno musical de todos os tempos ao vivo! Ainda mais aqui na América do Sul. Quanta honra para o mundo, quanta sorte seria se isso fosse possível.

Seja como for, o que Elvis fez até 1977 ficou para a história como uma das grandes revoluções dos tempos modernos, não só na música, mas no comportamento também. E ficará eternizado. Mexia sua pélvis como ninguém pensara em fazer até aquele momento e foi brilhante no que fez. Aliás, que pélvis aquelas! Elvis influenciou e ainda influencia jovens de todas as idades. Bateu recordes de venda de disco solo mesmo depois de "oficialmente" morto.


Os críticos podem dizer que ele era direitista radical, conservador, autoritário, ligado ao FBI e que entregava artistas de comportamento "duvidoso", mas o que os críticos não podem é negar o talento universal daquele ex-caminhoneiro que revolucionou o planeta e o fez da melhor forma possível.


Estamos há 30 anos sem o rei, que não nos deixou órfãos por está cada vez mais vivo dentro de nós e de nossas memórias. Tudo isso através de sua música e voz de seda! Celebremos a passagem de Elvis Presley na Terra, que nos salvou ao universalizar o Rock´n´Roll. Imaginem como o mundo seria infinitamente mais chato sem o aparecimento deste grande astro e de seu gingado sensual; e com certeza o rock nunca teria saído do berço americano para conquistar o mundo e modificar as vidas de tantos, assim como eu. Ele esteve presente com sua música em momentos importantes na vida de muitas pessoas. Foi testemunha de amores e desamores e fez todos dançarem e chacoalhar o esqueleto com canções realmente quentes. Esteja vivo ou morto, Elvis sempre será o Rei!



Como tudo começou – Elvis Presley grava "That´s all Right Mamma"


Elvis em 8 de janeiro de 1935, em Tupelo, Mississipi, em um casebre de dois cômodos. Seu irmão gêmeo, Jesse Garon, morreu ao nascer. Talvez levada pelo sentimento dessa perda, a mãe de Elvis, Gladys, idolatrava o filho. Desde criança, Elvis interessava-se pela música; aos oito anos ganhou da mãe sua primeira guitarra. Ele ia com seus pais à igreja freqüentemente e adorava música gospel, o que o fez entrar para um coral. Além da música que ouvia na igreja, Elvis tornou-se um ouvinte assíduo de rádios que tocavam blues e r&b (rhythm and blues).

Em 1948, Elvis mudou-se com a família para Memphis, onde seu pai arranjou um emprego de caminhoneiro. Como não se preocupava muito com os estudos, Elvis contentava-se em garantir o mesmo emprego de seu pai, mas continuava a interessar-se por música.

No último ano escolar, o até então tímido Elvis Presley começou a chamar atenção. Ele levava o violão para a escola (chegou a ganhar um concurso de talentos) e adotou um estilo de cabelo diferente, mais comprido, além de usar roupas vistosas e multicoloridas. Foi quando conseguiu um emprego como chofer que percebeu a chance para uma reviravolta na sua vida:

Naquele verão, em seu novo emprego em uma companhia de eletricidade, Elvis estacionou durante a hora do almoço diante do número 706 da Union Avenue, em Memphis. "Pagou quatro dólares e saiu com o único exemplar do primeiro disco de Elvis Presley, um acetato de dez polegadas com uma canção em cada lado." (MUGGIATI, 1985, p.30)

Este primeiro disco que gravou pela Sun Records não impressionou o dono da gravadora, Sam Phillips. Mas quando ele juntou-se ao guitarrista Scotty Moore e ao baixista Bill Black, uma brincadeira de estúdio chamou a atenção de Phillips, que os mandou continuar com a gravação. Essa brincadeira era a música That’s all Right (Mama), do bluesman negro Arthur "Big Boy" Crudup e virou o primeiro sucesso comercial de Elvis Presley. A partir daí iniciaram turnê pelos Estados Unidos.


Suas músicas memoráveis são incontáveis, mas entre blues e gospel, Elvis tem uma discografia incrível. Lembrando que ele era um grande intérprete, destaco algumas músicas que todo fã deve conhecer: a dançante Dirty, Dirty, Feeling, do seu primeiro álbum, a sensualíssima Fever, Like a Baby, It Feels so Right, do mesmo álbum, as mais famosas como Blue Suede Shoes, de Carl Perkins, Love Me, Heartbreaker Hotel e a fabulosa Jailhouse Rock, em que no clipe Elvis aparece numa prisão dançando sensualíssimamente.


Ao meu ver, teve a infelicidade de encontrar em seu caminho o Coronel Tom Parker, que o fez milionário – mesmo desviando muito dinheiro dele - e ao mesmo tempo um prisioneiro. Dava remédios a Elvis para ele agüentar o batalhão de shows e o exilou do mundo, ao mandá-lo para a Alemanha, terra natal do Coronel, para que o jovem rapaz service ao exército de lá. Jamais permitiu que Elvis fizesse shows fora dos Estados Unidos, até porque ele próprio não podia sair de lá. O rei encontrou a morte em decorrência dos remédios indicados pelo coronel.

Tatiana Cavalcanti

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Ajuda cômica

Todos queremos ser úteis. Ajudar ao próximo é algo inerente à natureza humana. Ajudamos desde coisas triviais a momentos de extrema tensão e inesperados. Há pessoas que não pensam duas vezes diante da necessidade de socorro imediato a alguém acidentado, doente ou que simplesmente tropeçou na sua frente. Ao tomarmos atitudes assim esperamos que sejam as melhores possiveis para aquela situação e, na maioria das vezes, nem pensamos em nossas limitações. Ou nunca ouvimos falar daquele indivíduo que pula na água para socorrer alguém de um afogamento e só depois se lembra que também não sabe nadar? Mas há situações que se tornam cômicas sem ser tão perigosas. Em uma locadora de DVD’s da zona norte aconteceu algo assim.
Com um time de funcionários altamente qualificados e sempre prontos a ajudar a todos os clientes, situações inusitadas sempre testam seus nervos. E naquele dia não poderia ser diferente.
Uma criança vem à loja acompanhada devidamente por sua mãe. Enquanto esta escolhe seus filmes para locação, uma funcionária nota que a criança está mudando de cor e passando mal. De repente o pior acontece: a criança começa a vomitar. Imediatamente a atendente começa a prestar socorro. Até ai tudo muito bom, não fosse um detalhe, daqueles que não pensamos na hora, mas que fazem a diferença. A funcionária, assim que via alguém vomitando, também vomitava. E foi exatamente o que ocorreu. Agora eram dois vomitando no meio da loja. Uma segunda colega de trabalho veio ajudar. Quando viu de perto o que estava acontecendo com os dois não pestanejou: abriu a boca e começou a vomitar também diante da sensação de azco que sentiu. O resto dá para se imaginar, o que seria somente mais um caso de criança intoxicada ou com alguma virose virou um tremendo lamaçal, que agora pedia uma terceira pessoa não suscetivel para ajudar três coitados e enfraquecidos seres humanos além da triste tarefa de fazer a limpeza do local.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Ausência de Indignação

Não creio que seja apenas comigo. Na verdade acho que todos, em algum momento, sentem o mesmo. Há dias que vem mais forte, em outros apenas algo que levemente toca meus pensamentos. Pode ser provocado por algo comum a todos na forma de manchetes em jornais e programas de rádio ou tv. Pode ser provocado por algo que só eu vejo ou percebo nas entre linhas da vida. Pode até ser a soma de tudo isso num dia qualquer em que a vida fica brincando comigo, me tratanto como o idiota que sou. Mas eu sempre a sinto. Está sempre ali, agachada atrás da porta só esperando para saltar sobre meu peito e me deixar maluco. Há, porém, situações em que ela é tão grande e tão evidente, que me espanto ao perceber que outros simplesmente pulam sobre ela para não perderem um pouco de seu tempo precioso na vida. Na verdade, acho que se trata apenas de pura e simples acomodação. Vou tentar narrar um momento vivido por mim e por mais duas pessoas. Espero que ela apareça para vocês com a mesma força que apareceu para nós.

Pessoas boas atraem pessoas boas

O vento toca a pele como pequenas laminas afiadas e cortantes. A sensação de frio só faz aumentar com o zunido do ar gelado passando pelos ouvidos. Nas ruas, carros com seus vidros fechados protegem seus passageiros. Nos bares da cidade, bebidas quentes, aperitivos, pratos saborosos e muita gente bonita que se aquece entre conversas e muitos risos. Afinal, é sexta-feira e todos têm o direito de esquecer por alguns momentos que a vida é exigente demais. A noite é uma das mais frias do ano nesta enorme e linda cidade, São Paulo. Mas logo ali, numa das tantas avenidas da Zona Norte, sob a estreita marquise e sobre o granito gelado de uma agência bancária de um dos maiores grupos financeiros do mundo, uma pessoa não foi convidada, nem sequer avisada, a participar de todo esse calor. Ele tremia ao tentar - em vão - cobrir-se com uma velha toalha de banho, doação de um tocado morador da região. A fome estava sendo deixada de lado com a ajuda do álcool, que era o único companheiro disposto a uma boa conversa.

Entretanto, a cidade de São Paulo esconde - por entre seus arranha-céus - histórias de amor, carinho e solidariedade. Certa noite, fui à casa de um amigo na Avenida Braz Leme sem real necessidade, era algo que poderia ser feito outro dia. Quando retornei em direção ao meu carro presenciei uma cena comovente, dessas que marcam uma vida.
Um carro estava estacionado em cima da calçada com as portas abertas, em frente a tal agência bancária, e logo adiante uma mulher jovem e bonita falava com um andarilho. Aquele homem recebeu calor através de um cobertor, uma sopa quente e, principalmente, através de uma boa conversa. Resolvi falar com ela e percebi que ali ela não estava sozinha, pois havia duas amigas com ela, mas dentro do carro. Após um pouco de conversa, estavam todos rodeando aquele homem.

Na noite anterior, uma das mais geladas dos últimos anos, essa mulher de 44 anos de idade, sozinha, pára seu carro ao ver um morador de rua, com muito menos do que ela tem na vida. O homem passava muito frio e fome. Comovida, tomou uma atitude nobre e incomum. Voltou no mesmo instante à sua casa e providenciou um agasalho e comida.
Elayne não conseguiu dormir direito aquela noite de tanta preocupação com o morador de rua. Ela enxergou um homem frágil e sem proteção, a ponto de ele sentir vergonha de usar o que ganhou de presente na frente dela. Ele apenas continuava se protegendo do frio com uma toalha de banho velha e úmida.

As palavras de Venâncio Gomes, o morador de rua, foram de gratidão absoluta. Mas uma coisa que chamou muito a atenção. Ele não parava de repetir que era "negro". Ele pediu que eu me aproximasse e eu o fiz sem pestanejar. Ele ficou impressionado com o fato de eu não ter receio de chegar perto dele. Pensei que aquele homem, tão inteligente e sensível, deveria ter sofrido muito preconceito por uma coisa que nem existe: raça humana. Para mim ele não era preto, nem branco, nem vermelho, nem amarelo, ele era apenas uma pessoa que precisava conversar.
O que me comoveu particularmente na ação de Elayne não foi o fato de ela ter doado uma blusa, um cobertor ou mesmo comida, mas sim o fato de ela ter doado seu tempo, sua atenção e sua prosa, coisas raras no mundo globalizado e ágil de hoje. Ela deu muito mais que isso, proporcionou dignidade e calor humano aquele indivíduo excluído e ignorado pela sociedade.
Venâncio, que já teve emprego e família, hoje não tem casa nem bens pessoais, mas ele mantém intacta sua dignidade e cidadania. Dorme na rua, pois considera os albergueres proporcionados pela Prefeitura violentos e inseguros. Alegou não querer ter filhos para não jogá-los num mundo tão cruel e numa realidade tão degradante. Elayne, que vive bem e possui uma boa casa e família, perdeu - em um ano - o pai, a avó, o irmão e passou pela traumática experiência de atropelar um cadáver. Elayne enfrentou problemas que a fortaleceram e, ao invés de sentir pena de si própria, decidiu ajudar aqueles que necessitam.

São vidas distintas e experiências diferentes que podem unir os seres humanos tão frios e individualistas de hoje. Muitas pessoas se trancam nesses dias congelantes que estamos vivendo envoltas em seus problemas e não olham para o lado para perceber como é simples ajudar alguém que precisa apenas de calor humano. Dar roupa e comida não irá tirar aquele ou qualquer outro andarilho das ruas, mas irá, sem dúvida, aquecer seus corações tão embrutecidos pela vida.


Texto de Tatiana Cacalcanti com colaboração de Mario J.Silva. rascunho de Mario Stones

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Procura-se Rapaz Virgem


Na vida há momentos que se enquandram em vários filmes. Podemos passar por situações que lembram romances, daqueles com príncipes encantados, princesas estonteantes, muitas dificuldades no caminho e um lindo final feliz. Noutros tudo parece um filme ‘noir’, com suas cores escuras e momentos de alta tensão. Mas o legal mesmo é quando nos encontramos dentro de uma comédia da vida real. Quem nunca se viu numa situação hilária por sua originalidade? Muitas vezes nem o melhor dos roteiristas seria capaz de imaginar desfechos mais cômicos.

Num dia normal, daqueles em que todos estão acordando para o trabalho (ou pelo menos os que estão empregados), outros nem pensam em acordar e, ainda, aqueles que nem sabem direito para que mesmo serve o dia, a proprietária de uma locadora na cidade de São Paulo prepara a troca de cartazes publicitários dos filmes expostos nas vitrines de sua loja. Retira alguns, coloca outros e, entre os novos, decide pelo do lançamento do filme “Procura-se Rapaz Virgem”, que conta a história de uma vampira de 400 anos que procura pelo dito cujo para se manter jovem. O filme, com o ator canadense Jim Carrey, e com essa temática, só poderia ser mesmo uma comédia. O que nossa desavisada proprietária não imaginava era como a junção de desemprego e cinema poderia lhe fazer rir por muito tempo.

Aconteceu assim: em sua loocadora apareceu de repente um rapaz, com seus 15, 16 anos, acompanhado de sua mãe. Ele todo tímido, a mãe séria mas com ar de orgulho, na mão um envelope pardo, daqueles em que guardamos uma folha de sulfite tamanho A4. Por um instante impera o silêncio, já que uma esperava que a outra solicitasse informações de como alugar um filme, a outra esperando sabe-se lá o que. Uma finalmente pergunta:

- Pois não?.
- A outra diz então: - Viemos aqui para que meu filho possa ter a oportunidade de emprego.
- Desculpe, como assim?
- Vi o anúncio e fui em minha casa buscar meu filho. Espero que a vaga ainda esteja em aberto. Afinal sei que é muito dificil encontrar um rapaz que preencha esse requisito hoje em dia.
- Desculpe, mas ainda não compreendo.
- Em seu anúncio você pede um rapaz virgem. Eu, como uma mãe muito preocupada com o futuro do meu filho, posso garantir que ele ainda é virgem. Não sabe o que é mulher e está bem preparado para trabalhar.

Muitas gargalhadas depois e desfeito o mal entendido a dona da locadora ainda não podia acreditar no que acabara de ouvir. Ela precisou do testemunho dos seus funcionários para que alguém acreditasse naquela atitude louca e ao mesmo tempo cômica de uma mãe desesperada por garantir um bom futuro ao filho com a primeira oportunidade de emprego.

Essa é uma hitória real. Se quiser, poste outra coisa por mais bizarra que seja.
Um abraço

Primeiro Dia

Acabando de começar as postagens. Amanhã volto.