quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Educação sexual de crianças

Educação Infantil

Crianças são fofas, lindas, divertidas e alegres. Têm presença de espírito, sempre com suas observações acertadas. Encantam a todos com seus sorrisos puros e inocentes. Com sua visão simples sobre a vida, fazem inveja aos adultos atolados em complexas manobras para garantir o próprio sustento. Quantas vezes os vemos como verdadeiros anjos e seres abençoados simplesmente por serem crianças? Sendo assim, todos queremos estar sempre junto delas, já que são tão inofensivas. Será mesmo?

Em todos os meus anos na locadora presenciei uma verdadeira procissão de pais e, principalmente, mães a beira de um ataque de nervos (Pedro Almodóvar bem poderia ter usado esse titulo), buscando todos os dias um filme ou desenho que fosse capaz de acalmar, nem que fosse por apenas uma hora, os ditos anjos. Aliás, de tão estressadas, as mães usavam todos os predicados e adjetivos possíveis ao falar de seus filhos, que eram muito mais um sacrilégio que algo sacrossanto.

Como sempre, defrontada com tantas queixas, eu me fazia cúmplice daquelas mulheres e sugeria o vídeo milagroso que, como num passe de mágica, faria aqueles docinhos temperados com nitroglicerina acalmarem-se. Mas é sempre bom lembrar de um detalhe: em uma locadora há milhares de títulos com uma infinidade de capas. E foi nesse caldeirão de diferenças que tudo aconteceu.

Helena chegou aquela manhã falando o de sempre: “Hoje é dia de eu lavar as roupas dos três porquinhos que resolveram aparecer em minha vida”. Numa tradução literal, ela dizia o seguinte: “O 1º Batalhão de Infantaria do Exército voltou de uma missão no pantanal Matogrossense, deixou todas as suas roupas em meu tanque e foi para a sala praticar tiro ao alvo em minhas fotos de infância”. Claro que por trás desta singela declaração estava guardado um aflitivo pedido de socorro, algo que possibilitasse distração aos seus soldadinhos de chumbo enquanto ela se ocupasse de seu dever pátrio, ou melhor, mátrio.

Feliz, retornou para sua casa com um belo desenho animado, lançamento da semana, desejado por onze entre dez crianças. Todos reunidos, deixou o controle remoto sob os cuidados do mais velho e foi, soberana, rumo ao cumprimento do dever. Foi uma tarde como outras. Separação de roupas por cor e tecido, molho para as mais encardidas, brancas num varal, coloridas noutro. Tudo muito calmo e tranquilo. E foi aí que ela percebeu. Tudo muito calmo e tranquilo até demais!

Helena resolveu visitar a sala. No caminho chegou a pensar que o desenho devia ser realmente espetacular. Planos para mais locações da mesma fita já se tornavam claros em sua mente. Agradeceria a locadora e seria capaz até de mandar entalhar uma placa em reconhecimento ao incrível serviço prestado à sua saúde. Num arroubo de euforia, deixou para trás a idéia da placa e pensou mesmo numa estátua em praça pública.

A sala se aproximava e o delicioso som do silêncio imperava, apenas com uns suspiros e gemidos que cruzavam o ar eventualmente. Suspiros e gemidos em um desenho animado? Uma respiração ofegante se tornava mais clara, palavras em inglês ecoavam pelo corredor, algo como "fuck" qualquer coisa. Mas das crianças, nem um pio.

A visão foi trágica e cômica. Os anjinhos estavam com seus olhos arregalados, sem piscar, queixos caídos e um ar de curiosidade como só as crianças diante do novo podem ter. Um belo, se é que podemos dizer isso, filme pornô distraia a jovem platéia que sequer notou à presença da mãe.

Desfeita toda a confusão, fitas trocadas e novos prazos de locação gentilmente cedidos à Helena, aprendi mais uma: olhar o conteúdo das caixas é tão importante quanto se preocupar com os problemas das mães.

PS.: Só mais uma coisa, você já conferiu o que eu te aluguei hoje?

Autor: Mario J. Silva
Revisora: Tatiana Cavalcanti